Até porque ontem reencontrei o Adolfo Luxúria Canibal em Braga, a minha cidade.
PAREDES DE COURA (FODIDO DOS CORNOS)
As caras olham-te
E sentes-te em cima
As caras olham-te
E sentes-te em baixo
Os boatos correm
Foges das caras
Partes vidros
Intriga assassina
Ai! A minha vida
Os poetas malditos amam-te
Os outros ignoram-te
Dão cabo de ti
A mulher que amas
Fugiu para a Venezuela
Os polícias vigiam-te
Cospem na tua literatura
As outras adoram-na
Mas não te entendem
Chamam-te palhaço e não fazes caso
Dizem que o teu mestre era um bebedolas
Em Atenas
E não fazes caso
Dizem que és um desordeiro um alcoólico
E pedem-te “Borboletas”
Dizem que a tua mulher só te quer
Porque agora és uma estrela
O gerente persegue-te
obcecado pelas tuas dívidas
Mas tu não dás troco
És realmente uma estrela
mas continuas teso
Os vidreiros atrás de ti
E continuas teso
Defendes os guerrilheiros da Colômbia
E chamam-te canalha
Defendes os teus ideais e dão-te porrada
Apresentas o teu livro e dão-te patadas
Julgas-te o maior, dizes patacoadas
E cais bêbado na esquina
Vais ter com o caos e não sacas nada
Vais fornicar ao cais e espetam-te a faca
Vais à procura da luz e só encontras merda
Estás com alucinações e és alvo de chacota
Deves o cacau e apertam-te o cerco
És um animal de palco
E não consegues sair do transe
És uma puta do rock
E sobes aos céus até cair até à veia
Nunca mais vais saber se a plateia
Te ama ou te odeia
Ouves os aplausos
Mas estás fechado em casa
E as mulheres só aparecem
Quando andas agarrado à cena
Amam-te e armam-te ciladas
Provocam-te fazem-te enlouquecer no hotel
Com os orgasmos da gaja do quarto de cima nos cornos
Depois acusam-te de tráfico de droga
Não sabes onde estás
Com quem estás
Onde vais
E escreves coisas supostamente geniais
Para agradar à populaça
Queres mulheres e elas não vêm
Queres mulheres e elas fogem
Do whisky, da maldição, da subversão,
Da vida que queres
Queres mulheres e elas caem
Querem filhos, casamentos, rotinas, obrigações
Queres mulheres e já não queres
Porque estás para lá
E andas fodido dos cornos
E só te apetece beber mais.
A. Pedro Ribeiro, até à morte.
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