Entrevista com o tigre!

A propósito da sua recente libertação da pequena jaula na Avenida dos Banhos, da recente perda da sua perna e da consequente operação “Salvação da Perna do Tigre” lançada pelo Doninho dos Pezinhos, pareceu-me pertinente fazer uma entrevista ao Tigre.
Discutir política, a sua vida estilhaçada por um azar cruel, as suas aventuras românticas, a sua opinião da Póvoa, tudo o que eu pudesse abraçar ao longo destas duas horas de entrevista.
Marquei com ele uma entrevista, durante uma tarde chuvosa no Berlim.
Eram 14,30, quando ele apareceu manco (tinha perdido uma perna às custas da gangrena) e a fumar um cigarro. O Phil Collins pareceu estranhar semelhante presença, e à semelhança do Miro estava prestes a dizer para ele se ir embora, se retirar do seu estabelecimento. Até o parvalhão do Mc Chouriço (Diogo prós amigos), que não é estranho a personagens caricatas, pois ele vem do Gueto, começou logo a gozar com ele, fazendo umas rimas e versos de troça ao som de um beat box do Moretto.


Sentou-se e, num lamentar traduzido por um suspiro, disse-me “Boa Tarde” e logo rematou, “O SrDonadoni não te ligou hoje?!”.
Respondi que não, ao mesmo tempo que me levantava para o saudar efusivamente.
Perguntei-lhe se tava preparado para reviver todas as suas memórias como se estivesse sentado no primeiro carinho de uma montanha-russa velha e sinuosa, preparado para uma viagem agitada e confusa.

Entidade Doninha: Olá Tigre, como é que tudo começou? Que etapas percorreste tu, até chegares a uma pequena jaula na Avenida dos Banhos, ao lado de uma loja de decoração e de uma entrada de garagem?

Tigre: Oh pah, é uma história muito complexa, haja tempo e saúde para ser contada, mas vamos por etapas. (os olhos reviraram pra cima, num movimento conhecido pelos oftalmologistas como “Miro e Vizinhos de Cima”, indicando que ia ser algo demorado e custoso).

Entidade Doninha:Começa pelo início meu caro, tua infância, adolescência...

Tigre: Ora bem, tava numa planície da Savana do Bangladesh, altivo e imponente à procura da presa do dia, um burro de um antílope, saltitante e gayzão pra amarfanhar, quando avisto ao longe, uma expedição de caçadores ingleses. Não lhes dei muita atenção, afinal, só gostavam de caça mais paneleira, tipo raposa, algo mais cobarde como se montarem em grupos de 15/20 rodeados de 200 cães pra caçarem uma pequena raposa...

Entidade Doninha: (risos) Denoto aí uma pequena crítica à sociedade inglesa meu caro...

Tigre: Não é isso pah, apenas nunca pensei que fossem querer caçar um tigre, não lhe tá no sangue caçarem animais com um tamanho minimamente corpulento, nem tava, tanto é que, quando dispararam, o tiro nem a mim tava a ser apontado... Mas começou aí o meu azar... ( acende mais um cigarro)... a puta da bala fode-me logo numa vistinha...

Entidade Doninha:Mas chegaram a capturar-te?

Tigre:Nada disso, consegui fugir, sem ver nada de uma vistinha, andava eu pela savana aos zigue zagues, como se tivesse jantado no Balazeiros, até que encontro um grupo de turistas do Curso de Biologia Marinha de uma universidade portuguesa.

Entidade Doninha: Espera lá, um grupo de alunos portugueses no Bangladesh? Porque razão isso me tá a soar a uma alucinação? Um mentira composta para a tua biografia vender mais que um livro de Anedotas do António Sala..

Tigre: Nada disso, estavam lá devido terem desviado fundos da Associação de Estudantes. Fundos esses que eram resultado do dinheiro feito na Queima das Fitas e, supostamente, deveria ter sido utilizado para cumprir as promessas eleitorais do corpo de estudantes, mas resolveram perder-se numa savana, num destino mais exótico.

Entidade Doninha:Mas foram eles que te salvaram certo? Só assim tiveste acesso a esse tipo de informações?

Tigre: Oh pá, salvaram-me. Mas biologia marinha geralmente, trata de bicharada gorda, gigante. As doses eram fodidas. A intenção de me tratar era boa, o instinto de cura e da PETA estava lá, mas foda-se, doses de baleia ou leão marinho de analgésicos deixaram-me perdido. Andava os dias todos com uma broa que não me levantava. Andava com “uma neblina” nos olhos. E, segundo o que me disseram, aquilo causava efeitos secundários adversos (numa pesquisa posterior descobri que se tratava de Priapismo: síndroma genital caracterizado por erecções violentas, dolorosas e persistentes, mas que não despertam qualquer desejo sexual nem são seguidas de ejaculação). . Era um tesão descomunal, andava drogado e com um tesão descomunal. No pequeno Zoo Marinho que me colocaram, eu fornicava com tudo que mexia. Focas, Albatrozes, Golfinhos, era tudo o que me aparecia à frente. Era uma existência desgraçada. Destinada a uma vida de putaria barata. Um gajo acorda com um albatroz ao nosso lado e, de repente, repara que algo tá errado. Sou um tigre, ainda tenho o mínimo de decência e sinceridade.



(Doninho dos pezinhos em calção de lycra a tratar do tigre)


Entidade Doninha:
Então como é que tudo se resolveu?

Tigre: A sorte foi eles estranharem o meu comportamento, chamaram o Doninho dos Pezinhos, biólogo afamado. Descobriu logo o que se passava. Ele também tem um labrador que se crê que é gay. O Black. Então era um especialista em comportamentos sexuais animais fora do vulgar. Ele descobriu logo o que e passava. Descobriu que eu não era desses de fornicar gajas fora da minha espécie. Uma vez por outra, numa noite de loucura de shots do Plástic, pode ser que aconteça. Mas continuamente não, entendes? Lá me cortaram a dose e eu voltei ao meu comportamento normal, continuava a ter relações com elas, mas desta vez caçava-as no final. Tomei-lhe o gosto, e uma foca não é para se desprezar.

Entidade Doninha:E depois? Saíste do Zoo e que te aconteceu?

Tigre: O Doninho dos Pezinhos arranjou-me um tachinho na cidade da Póvoa. Jobs For the Boys. Só tinha que ficar naquela pequeninha jaula, imponente, e assustar veraneantes, especialmente avecs, mas cedo, tornou-se monótono. Até porque eram eles que me assustavam. Putas de polos Lacoste e sapatilha com a calça de fato-de-treino lá enfiada. Fiquei desgostoso, para aquilo que eu tinha sido contratado, comecei a falhar. Pessoas notaram a diferença de rendimento. O meu novo tutor, o Pezinhos disse-me que não podia falhar. Mas começaram da maneira mais cruel. Despediram-no a ele. Para me deixarem a sofrer, a definhar dentro da jaula.

Entidade Doninha:E agora? Que planos para o futuro? Que tens planeado?


Tigre: Fui convidado pelo Doninho Parco para ser a cara, o rosto da apresentação de um novo produto. O Suíco, não posso revelar muito, sei que é um objecto com uma forma rectangular e que pode ser servido em pacotes. É tudo o que eu sei, ele também só me descreveu como sendo “uma cena”, nada mais. Vamos lá ver como corre!


E é esta a primeira parte da entrevista com o tigre. A restante parte vai surgir em 2008, onde o Tigre nos vai revelar o seu lado mais intimista. Quem fornicou quem, personalidades conhecidas, que passaram pelos lençois da sua jaula. Gente conhecida da nossa praça!

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