De intelectual poeta, no Dia Mundial da Poesia, a mero Pintor de Cozinhas em breves minutos!

A juventude não me pertence,
Nem a delicadeza, não posso enganar o tempo com palavras,
Sou desastrado nos salões, não danço, não sou elegante,
Na sociedade culta sento-me, incomodado e imóvel, pois à cultura não estou habituado,
À beleza e ao conhecimento não estou habituado – mas há duas ou três coisas às quais estou habituado,
Alimentai os feridos e reconfortei muitos soldados moribundos,
E, entretanto, no meio do acampamento,
Compus estes cantos.

(pp.280, Walt Whitman, Folhas de Erva, 2003, Lisboa: Assírio & Alvim)



Começo o dia de forma diferente, um intelectual, com fotocópias debaixo dos braços. Poemas para o dia da poesia, folhas que espalhei por locais de cultura. Ideias do Rascunho. Só me falta A Brasileira, os óculos a puxar o amigo Fernando e uma moca de ópio para fazer algo minimamente construtivo. Passeio pela cidade altivo, procurando estátuas para roubar, alegando motivos fascistas. Coço na cabeça como se puxasse por ideias.... "Tou sem controle, Tou sem controleeeeeeee, tou sem controleeeeee, coquete de televisão"

Volto para casa, para o meu escritório. Talvez escreva, leia um livro, faça um monólogo em mandarim para o meu cão, sei lá, algo culto.
Mas não. Não é dia de poesia cá em casa. Espera-me a Entidade Maternal com uma trincha na mão, a gritar- "Ainda bem que te levantaste cedo, vais pintar a cozinha"!
Ora Foda-se! Repito (à ex- relações públicas do Benfica)- Ora foda-se!!!!
De grande cérebro pensante para mão de obra de andaime e sem nenhuma gaja para mandar piropos.

Tão depressa foi a queda...

Sou podre...

A realidade faz questão de me mostrar o caminho a percorrer com requintes de malvadez. Tranforma o poeta em trolha de segunda. Não há argumentação possível, fotocópias e poemas distribuídos não me retiram da pesada tarefa. Resta-me boicotar. Jogar sujo e fazer merda e talvez seja despedido desta, nova, tarefa do destino.

Não consigo, tenho três mestres-de-obra a mandar bitaites. A avó, o avô e a entidade maternal. Gritam como árabes numa execução:
-"Ele tem bom corpo, não lhe custa nada, grita a avó...
-"Tá uma merda!Não é assim! Pega com força! Mete mais tinta. Tá calada mulher!, grita o avô(tanta treta, mal pegou na trincha cagou logo o cabelo)
-"Ele não trabalha, por isso não lhe custa nada.Sempre ao barulhos vocês os dois (avô e avó) grita a entidade maternal...

Que eu saiba, são os trolhas que falam, de cima para baixo, do andaime para o chão. Mas nem aqui tenho sorte. Já não chegava o jeitinho de merda, que Deus me deu para a pintura, ainda tenho experts na matéria a mandar bitaites.

Não posso pensar que sou algo que não sou. E pelos vistos não sou intelectual, porque o destino fez questão de deixar bem vincado. Que se fizer poemas tenho que incluir "puta de cu", "grandes tetas" em cada verso, mas do alto do andaime a poesia do trolha também não flui no meu corpo.



P.s- Perdoem-me o desabafo mas não tinha outra alternativa...



P.S. 2- para quem não achou piada, que se contente com isto ... Link Engraçado

2 Contribuições de Merda:

Entidade Doninha disse...

Pois tou triste... Depois de uma comparação ao Profeta dos tempos modernos, Zumba, outro sentimento de espírito não seria possível...


Esmerelina...Esmerelina....

Júlio Parco disse...

Quanto ao 1º acto do post só espero que não tenhas envergado um fato de coelho da Páscoa e tenhas ido para a Junqueira declamar tão bons versos, acompanhado pelo Donadoni à guitarra.
Em relação ao 2º acto penso ser a melhor Prosa Doninha já alguma vez publicada neste pequeno espaço!Parabéns!